Tenho COVID-19 e agora?
1ª Semana – A minha história
Sim, também eu fui apanhada pelo bichinho, testei positivo para a Covid-19 faz hoje 1 semana na consequência de alguns sintomas e de ter estado em contacto com alguém que também teve um teste positivo.
Chegou a minha vez de ser o meio de transporte deste inimigo invisível da saúde pública que não escolhe idade, género, profissão ou estatuto social, que é a estrela de abertura dos noticiários diários e que deu a volta ao mundo em menos de 40 dias (quarentena, olha a ironia) e deixou um pedaço de si em cada continente.
E agora? Confesso, os primeiros 2 dias foram muito difíceis, a falta de informação e de seguimento do caso por parte do SNS 24 estavam a deixar-me louca, a espera e a ansiedade levaram-me ao hospital no domingo (dia 2) com falta de olfato e paladar, o coração a mil e a tensão a cair a pique.
Tive a sorte de encontrar uma equipa de profissionais de saúde extremamente competente que me trataram com todo o cuidado e sem demoras. Depois de muitas agulhas a perfurar a minha pele, de 1 frasco de soro, muitos testes incluindo o famoso da zaragatoa, tive alta e regressei a casa conforme fui, sozinha, ainda desnorteada e pelos meus próprios pés e mãos.
O Alerta
Em casa, eu tinha a certeza que era um caso positivo era uma questão de tempo até receber o resultado, estava isolada desde o momento que percebi que esta podia ser uma realidade, e apesar do concelho do SNS 24 ser não alertar ninguém até ter o resultado, eu fi-lo.
Alertei aqueles que amo, aqueles por quem o meu coração tremia só de imaginar que eu poderia ser a razão de eles contraírem o vírus. É estúpido, nunca deveríamos sentir-nos culpados por isso, é algo que está muito para além do nosso controlo, mas sentimos inevitavelmente esta sensação de culpa, muito por causa da sociedade em que vivemos.
Felizmente eu tive a coragem de não me esconder e sei hoje que travei uma cadeia de transmissão, nenhum dos meus contactos teve um teste positivo.
Alertei também o responsável de recursos humanos do meu local de trabalho. Estava preocupadíssima, esta bomba caiu mesmo na altura errada (como se pudesse existir uma altura certa), durante a corrente semana, na qual, de uma forma ou de outra, eu tinha de estar em isolamento, iria decorrer um projeto que andava a organizar há meses, como responsável do departamento, estava tudo nas minhas mãos. Única solução? Home Office, no meu caso pela primeira vez e com a saúde debilitada, foi um desafio, mas manteve-me muito ocupada durante toda a semana e por mais que em alguns momentos achasse que o meu cérebro ia simplesmente rebentar, aguentei firme e é certo que me ajudou a não pensar na minha mais recente condição.
A Confirmação
Noite de domingo, uma lágrima volta a cair após a confirmação, mais do que esperada: o teste para o COVID-19 foi positivo. Por mais que já tivesse informado toda a gente e resolvido todos os detalhes para encarar esta nova realidade, o sentimento de impotência, as questões parvas do: porquê eu? Porquê agora? Será que eu passei isto a alguém? – simplesmente não saíam do meu cérebro.
Engoli o choro, levantei a cabeça, vesti a capa da coragem e informei todos aqueles que esperavam com ansiedades e necessidades diferentes pela minha resposta.
A manhã do dia seguinte foi de adaptação, computador e telemóvel a rebentar de notificações e chamadas. A medo e com o corpo embalado em cansaço extremo, lá fui respondendo a tudo e a todos enquanto lentamente adiantava algum trabalho.
A casa dividida , a comida à porta num tabuleiro, lixo, roupas, objetos, tudo separado e desinfetado até ao mais ínfimo detalhe, eu própria sou o vírus, sou o mal, a doença e tudo em que toco pode transformar-se em perigo, até o respirar é um problema, e tudo invisível, inodoro e intangível. Como lidar com isso? Engole o choro, mais uma vez e vai à luta dentro das tuas 4 paredes.
Dia após dia fui melhorando, os finais de tarde e noites são mais difíceis, há muitas dores no corpo, a mente já não processa informação e às vezes é preciso desligar a ficha e esperar que tudo esteja mais funcional na manhã seguinte.
Hoje já recuperei parte do prazer de comer, já sinto sabor e o álcool que passo a vida a esfregar nas mãos já tem cheiro. O corpo já está mais forte e a mente mais ativa, mas ele ainda cá está, ainda o sinto e prometo que o vou continuar a combater com todas as forças que tenho e com aquelas que ainda vou ter.
To be continued….