Tenho COVID-19 e agora?
3ª Semana – a cura e uma sociedade doente
No inicio desta semana, finalmente e felizmente tive o momento que imaginei, com lágrimas nos olhos, durante os 20 dias em que estive em isolamento. O resultado do segundo teste à Covid-19 chegou negativo por e-mail e tive de abraçar e dançar com o meu gato porque não tinha ninguém por perto.
Mas melhor que isso foi poder sentar na mesa de jantar e usufruir da companhia e da conversa, não tinha ideia da falta que esse momento rotineiro de todo os dias me fazia.
Mas não é disso que quero falar hoje, quero falar de algumas coisas das quais me fui apercebendo nestes últimos dias em que o nº de infetados disparou principalmente na minha localização. Em março não conhecia ninguém que tivesse sido infetado pelo Sars-Cov-2, hoje toda a gente que conheço, se não esteve conhece alguém que esteve e isso é para lá de assustador.
Mas o que me deixa mais preocupada é o segredo, tenho conhecimento de imensas situações em que as pessoas têm medo e/ou vergonha de dizer que tiveram contacto com o vírus, que passaram por uma história igual à minha, linda, resiliente e com um final feliz. As pessoas têm até medo de dizer que suspeitam de ter contraído o vírus e mantem a vida social, profissional e familiar intacta, o que é acima de tudo irresponsável.
Vi pessoas a testar positivo e a não comunicarem ou contactarem aqueles com quem estiveram, a mentirem ou a ocultarem o local de trabalho com medo de serem culpabilizados de algo, como se estivessem a cometer algum crime, como se ficar doente fosse por vontade própria e carregam o fardo sozinhos e ainda adicionam peso pelo caminho.
Vi empresas a ocultar que um funcionário é mais um nas estatísticas dos infetados, a não querer colocar mais pessoal em isolamento, a rebaixar o trabalhador a mentir e a obrigar a mentir.
Tenho de admitir que estas situações me deixam mais do que irritada, furiosa. Se não remarmos todos para o mesmo lado a exaustão chega mais cedo e o barco cede à corrente.
Mais do que o usar máscara e lavar as mãos, é urgente consciencializar as pessoas e as empresas do que é “obrigatório” ser feito em caso de teste positivo, que não há vergonha em contrair a doença. Quando tens gripe? Não contas a ninguém com medo de como te vão olhar? Há quem diga que tem gripe como justificação para inúmeras coisas. Não é vergonhoso!
Ter capacidade para gerir e ultrapassar momentos de stress, resiliência, trabalhar sobre pressão, sentido de responsabilidade são algumas das inúmeras competências profissionais que as empresas exigem aos seus funcionários, mas onde é que existem estas competências na empresa quando têm atitudes como as que referi acima? Não deixem os vossos trabalhadores na mão.
A sociedade precisa reaprender o provérbio popular “é melhor prevenir que remediar” e levá-lo a sério, entender que o doente Covid não se tornou num monstro e que aquilo que necessita é de todo o apoio possível. De outra forma o sacrifício de todos aqueles que agem corretamente e dos incansáveis profissionais de saúde será em vão.
Por favor, aprende a conviver com o vírus e sê responsável.
Todos temos pelo menos um alguém que não queremos imaginar o mundo sem, por isso, se não és capaz de o fazer por ti, faz por esse nº 1 do teu mundo.